segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Pilotos

* Por Juan Saavedra
Quem mora no Rio, sabe. Passageiros costumam chamar de pilotos os motoristas de ônibus. A reverência - algo cúmplice, algo debochada, bem típica dos cariocas - é ouvida nas mais diversas situações.
O passageiro toca o sinal e o motorista finge que não ouviu?
- Paaaaara aí, piloto. Porra, é surdo. piloto?!
As pessoas querem que o ônibus pare fora do ponto, num lugar mais conveniente?
- Aêêêe, piloto? Valeu, piloto!
Tem gente subindo e o do volante começa a pisar no acelerador?
- Segura aíííííííí, piloto. Não tá vendo que a senhora tá subindo.
O coletivo lotado, 9 da noite, e o condutor vai devagar que só ele?
- Acelera aííííííííííííííííííííí, piloto. Quero ver o jogo.
Molengar na direção, no Rio, é caso raro - a não ser quando o motorista tem ordens diretas para cumprir o horário da chegada ao ponto de final. Aí, sim, é um trajeto irritante. Desses em que o dono da embreagem só anda de segunda e fica propositalmente encaixotado entre vários veículos. Experimente pegar o 410 às cinco da tarde, na Gávea, e você sentirá algo similar a navegar na internet com conexão discada.
Mas lerdeza não é regra. No Rio, a maioria tem pé pesado. E muitos levam a sério o apelido. Tive essa certeza quando testemunhei uma das cenas mais inacreditáveis da minha longa vida de usuário de Mercedões 44 lugares.
Estávamos eu e a então namorada, a caminho de um show na Zona Sul. Vínhamos da Tijuca, num 415 (Usina-Leblon). Lá pelas tantas, em Copa, o motorista do nosso ônibus começa a correr. Seu competidor um colega de outro veículo da mesma linha. De repente, parados num sinal vermelho, os dois conversam e se provocam.
- Teu ônibus é mais novo - diz o outro.
- Qualé, eu ganho com o seu. Vamos trocar - desafiou o motorista do nosso.
E rapidamente mudaram de assento.
- Ai, ai, deixa eu sair antes - gritou uma jovem, antes que o sinal abrisse.
- Maluco - bradou uma assustada senhora.
Em segundos, tal qual pilotos de Fórmula Truck, estavam enfileirados, em velocidade máxima, pela Epitácio Pessoa, pista da Lagoa Rodrigo de Freitas, diante de passageiros estupefatos.
Cariocas, como canta Adriana Calcanhoto, não gostam mesmo de sinal fechado.

2 comentários:

  1. juan!!! q bom saber q no Rio a vida de busão tb é sofrida... e divertida! hehehe!

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  2. Afe, peguei muito esse 415 quando estava no Rio. Tomava na frente da Candelária, às 9h da noite, no sentido Ipanema. Ficava no ponto morrendo de medo dos pivetes que moram por lá. E não é que os fdp dos motoristas nem sempre paravam. Os moleques chegando, cercando o ponto e o ônibus passando reto, ignorando meu bracinho esticado, abanando por socorro. E quando eu conseguia finalmente pegar o ônibus (depois de literalmente me jogar na frente dele!) era uma verdadeira fórmula 1 no aterro. Bons tempos aqueles...

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