quinta-feira, 24 de março de 2011

Pessoas de Busão

Todo mundo que anda de ônibus tem uma história de vida. Às vezes engraçada, triste ou até mesmo encorajadora.
Hoje, damos início à coluna “Pessoas de Busão”. Funcionará assim: vamos escrever o perfil das pessoas que encontramos durante nosso trajeto no transporte público com base no que elas nos contam. Sem perguntas específicas e, por isso, as informações não são precisas. Antes de descer do ônibus/metrô/trem, pedimos autorização para publicar a história. A de hoje é linda!

Jô esperou que os dois filhos crescessem para ir estudar. Há três anos, entrou na faculdade de Direito e acredita que não poderia ser mais apaixonada pela profissão. Ela espera que os dois anos restantes passem bem lentamente, pois quer aproveitar cada momento de aprendizado.
Há pouco tempo, o filho mais novo começou a vomitar esporadicamente. Foi ao médico e fez exames específicos que não deram em nada. Os vômitos começaram a ficar mais freqüentes e ele começou a perder peso. Passaram por dezenas de médicos e Jô já não sabia mais o que fazer.
Um dia, perguntou para um médico se ele poderia solicitar uma ressonância magnética (as opções estavam ficando escassas). No dia do exame, o técnico a chamou de canto e disse que ela precisava correr. Explicou que o emprego dele estaria em risco por conta das informações que lhe passaria, mas sua experiência dizia que era o mais acertado a se fazer. O menino estava com um tumor muito grande no cérebro e corria risco de morte.
Jô, como toda mãe, não teve muito tempo para digerir a notícia. No caminho para casa, aos prantos, foi questionada pelo filho sobre o porquê daquelas lágrimas: Estou preocupada, pois ninguém sabe dizer o que você tem – foi o que ela se limitou a dizer.
O tumor foi confirmado e ele foi internado e operado às pressas. Durante as muitas horas de cirurgia, a médica vinha dizer os estágios da retirada e alertava Jô sobre as possíveis seqüelas: ele pode ficar cego, ele pode não andar ou falar, ele pode perder os movimentos.
Jô ficou forte para dar todo apoio possível para o filho, que ficou um tempo considerável no hospital. A filha mais velha – também estudante de direito – a ajudava em tudo. Fazia comida, mercado e insistia para que a mãe descansasse um pouco da rotina que levava no hospital. Mas Jô não abandonou o posto por nenhum motivo.
O filho ficou com seqüelas e perdeu os movimentos de um lado do corpo. Anda de cadeiras de roda e está reaprendendo a falar. A casa deve de receber adaptações. Mas a família só se fortaleceu.
Mesmo com todos os problemas, o filho de Jô está cursando a universidade e está prestes a conseguir seu primeiro emprego. Como ela conseguiu superar todas essas dificuldades? “Sempre tento ver a vida como a água. Se ela encontra uma pedra, pode ficar parada durante um tempo. Mas ela sempre encontra uma maneira de contorná-la e seguir seu caminho”

4 comentários:

  1. que lindo!
    apesar dos perrengues que passamos no busão, histórias assim dão um ânimo a mais (não tira a vontade de excluir o bus da minha vida, mas dá um "up" quando a gente precisa..).
    Jô, força! ;)

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  2. Putz...lição de vida total!!!!
    Beijos,
    Tati

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  3. Coisa mais linda. Adorei a ideia da coluna! bjs

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